terça-feira, 30 de março de 2010

Nota sobre a polêmica do material de exumação enterrado no Parque Batuva

Nota do Escritório Ambiental Alcatéia sobre a polêmica do material de exumações enterrado no Parque Batuva

Cristiane Barbosa D’Oliveira

Bióloga (CRBIo 3: 63320/03)

Um momento tão triste para familiares e amigos é a perda de um ente querido, o preparativo para derradeiro adeus, os ritos fúnebres, o enterro.

Foi com grande surpresa que esta semana, nos foi noticiado que a Prefeitura de Sant’Ana do Livramento (RS), por meio da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos está colocando na área do Parque do Batuva, as madeiras de caixões exumados no Cemitério Municipal.

Através da imprensa local e por pronunciamentos e notas do executivo, o procedimento foi autorizado pelo Departamento Municipal de Meio Ambiente (DEMA).

Porém, o que a população está se perguntando é: Qual o real risco ambiental desse procedimento?

Atualmente, umas das atividades mais poluidoras são os cemitérios. Quando uma pessoa morre, tem inicio o processo natural de decomposição da matéria orgânica. Durante esse processo ocorre a liberação do necrochorume (que é o líquido resultante de água, sais minerais e substâncias como a putrescina).

De acordo com estudos do hidrogeólogo Leziro Marques (depoimento encontrado em http://aameacadosmortos.blogspot.com), “O necrochorume é vertido pela matéria orgânica em decomposição, ele é rico em nutrientes que proliferam uma assembléia de vírus e bactérias, inclusive as bactérias patogênicas”.

Em virtude desse risco ambiental é que o processo para licenciamento ambiental e fiscalização em cemitérios é bem rigoroso, porém o risco de contaminação aumenta com a falta de políticas ambientais e os cuidados sanitários em cemitérios públicos.

Além do contaminante orgânico (necrochorume), existem os contaminantes provenientes dos ritos fúnebres. O caixão, por exemplo, as peças de metais (como argolas, imagens, etc) possuem metais pesados, altamente poluentes, em contato com o solo e/ou água. Outro problema é o conservante utilizado na madeira dos caixões, altamente poluente. Durante o processo de conservação da madeira, os produtos utilizados são classificados como Tóxico pela ABNT NBR 10004.

Os pesquisadores Spongberg & Becks (2000) (artigo encontrado na Water, Air, Soil Poll., 117:313-327, 2000) citam que “Os caixões construídos de madeira não se apresentam como a principal fonte de contaminação do solo, a menos que conservantes da madeira fontes de metais pesados, principalmente Cr, ou à base de organoclorados, como o pentaclorofenol, estejam presentes. Entretanto, madeiras não tratadas se decompõem rapidamente, permitindo uma rápida disseminação de líquidos humurosos”.

Além disso, durante o processo de putrefação, as roupas, tecidos e o próprio caixão têm contato com o necrochorume. Segundo Barros et al., 2008 (artigo encontrado na Revista Brasileira de Ciências do Solo, 32:1763-1773, 2008 ) “As partes metálicas dos caixões, como alças e adereços, são consideradas as principais fontes de contaminação dos solos de cemitério por metais pesados. Outras fontes de poluentes são os produtos usados no embalsamento de corpos, conservantes da madeira de caixões e líquidos humurosos liberados na decomposição”.

Sem entrar no mérito da discussão (se tinham ossos e restos de roupas enterrados) somente a madeira dos caixões não deveria estar sendo enterrada em local sem nenhum tipo de tratamento, isolamento e cuidado mínimo com a segurança. Pois o local permite a fácil entrada de pessoas e animais, bem como o solo não possui nenhuma proteção, todas as substâncias utilizadas para a conservação do material, contaminantes e eventuais organismos pátógenos entrarão em contato com o solo, e eventualmente pode entrar em contato com corpos d’água e com o próprio aqüífero.

Segundo o Secretário Municipal de Serviços Urbanos do Município, Sr. Marcírio Silva (depoimento encontrado no jornal A Platéia em 30 de março de 2010) “O funcionário errou querendo trabalhar. Enterrou ali porque era assim que se fazia a muitos anos atrás”. O Secretário também cita que após as exumações ocorridas no Cemitério Municipal “os restos mortais são colocados em uma bolsa que a família deposita num nicho alugado. Do restante, as argolas, metais e tecidos são colocados em outra sacola. Os caixões eram queimados, mas agora são enterrados em uma área a 18 km da cidade).

A distância não é o fator de maior relevância nessa história, mas sim como é realizado esse procedimento. Qual é o tipo de solo no local onde essa madeira é enterrada? Qual a profundidade do aqüífero? Qual o meio de transporte dos mesmo?

Essa e várias outras questões estão sendo levantadas e esperamos que sejam respondidas o mais breve possível. Um descaso como esse com o meio ambiente, não pode deixar dúvidas sobre os riscos e contaminações oriundas de tal procedimento.

A sociedade santanense quer maiores esclarecimentos, não apenas por parte dos responsáveis pela destinação final dos caixões como pelo departamento do meio ambiente local.

Fonte:

http://planetasustentavel.abril.com.br/planetinha/fique-ligado/conteudo_planetinha_468991.shtml (acessado em 30/03/2010)

http://aameacadosmortos.blogspot.com/ (acessado em 30/03/2010)

SPONGBERG, A.L. & BECKS, P.M.. INORGANIC SOIL CONTAMINATION FROM CEMETERIES LEECHED. Water, Air, Soil Poll., 117:313-327, 2000.

Yara Jurema Barros, Vander de Freitas Melo, Sônia Zanello, Elma Neri de Lima Romanó & Patrícia Rafaela Luciano. TEORES DE METAIS PESADOS E CARACTERIZAÇÃO MINERALÓGICA DE SOLOS DO CEMITÉRIO MUNICIPAL DE SANTA CÂNDIDA, CURITIBA (PR). R. Bras. Ci. Solo, 32:1763-1773, 2008

Fabio Antoninho Gambin, Valter Antonio Becegato, Nádia Sanzovo, William César

Polônio Machado, Gabriela Salami. LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE UM CEMITERIO PARQUE NO MUNICÍPIO DE FRANCISCO BELTRÃO-PR• Revista Eletrônica do Curso de Geografia do Campus Jataí – UFG - www.jatai.ufg.br/geografia Jataí-GO. N.10. jan-jun/2008

segunda-feira, 1 de março de 2010

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